Dra Noélia Arruda

A NiT lançou um desafio a uma nutricionista que se especializou em fertilidade. São estas as respostas.

Entre o que tem estudado sobre o tema e o que mulheres e casais lhe vão perguntando, Noélia Arruda continua a descobrir um mundo de dúvidas sobre o que comer quando há uma preocupação em mente: infertilidade.

Foi em 2010 que a nutricionista começou a direcionar a sua atenção para este problema e para as dúvidas que as mulheres têm sobre o que fazer quando se quer engravidar, quando se está grávida ou a amamentar.

Desde essa altura que Noélia Arruda tem explorado estas temáticas, como acontece no seu recente livro, “Manual para a Fertilidade, Gravidez e Amamentação”, que surge para responder a estas questões e desmontar alguns dos mitos que ainda existem sobre tudo o que diz respeito à fertilidade. 

Em entrevista à NiT, a nutricionista conta que ainda há muitas ideias erradas sobre o tema. Isto apesar de haver hoje mais informação disponível do que alguma vez houve. As dúvidas também são muitas, especialmente numa altura em que as mulheres engravidam cada vez mais tarde, o que muitas vezes é sinónimo de desafios adicionais. Muitos casais continuam a procurar as formas mais eficazes de atingir o sonho conjunto de ter filhos.

Em certos casos, falamos de problemas de saúde que são apresentados como sentenças. Não, garante a nutricionista. No lugar de certos “nunca” há mesmo margem para as possibilidades. Noutros, encontramos ainda aquela visão antiga, de que se a mulher não engravida, a culpa deve ser dela. Errado.

Uma das dúvidas de muitas mulheres e casais é mesmo se o que comem pode fazer a diferença. A resposta é sim. Do stress, aos nossos hábitos, passando pelas opções alimentares que fazemos, há muita coisa que pode ajudar (ou prejudicar) a fertilidade.

A nutricionista, aliás, adianta que elaborou já “uma dieta para a fertilidade que envolve o consumo elevado de legumes e vegetais, pelas cores, pelos polifenóis que vão dar nutrientes ao organismo para que ele fique menos inflamado”. É uma ajuda concreta que permite escolher mais alimentos “ricos em gorduras boas como o azeite, frutos secos, proteínas de alto valor biológico como o peixe e os ovos, proteínas como feijão, grão e lentilhas”. Acima de tudo, resume: “deve ser uma alimentação livre de tóxicos e processados, uma dieta clean.”

A NiT lançou à nutricionista um desafio para nos ajudar a perceber quais são os maiores mitos e verdades quando falamos de alimentação e fertilidade. E porquê. Há seis temas em particular que a nutricionista destacou.

A infertilidade é um problema feminino? Mito. A infertilidade pode afetar só a mulher ou só o homem ou ambos. A infertilidade na mulher pode ser, por exemplo, problemas hormonais ou de ovulação ou por doenças autoimunes. No caso do homem a infertilidade pode ser, por exemplo, má qualidade dos espermatozoides, problemas de ejaculação ou um estilo de vida tóxico, explica a nutricionista.

O stress e a ansiedade têm impacto na infertilidade? Verdade. “Tanto no homem como na mulher o stress e ansiedade gera um organismo mais inflamado e isso tem impacto na vitalidade dos espermatozoides e na dificuldade de nidação e implantação do embrião. Implementar uma alimentação rica em antioxidantes e polifenóis ajuda na modulação e redução do stress oxidativo.”

Mulheres com este síndrome não podem engravidar? Mito. Na verdade, as mulheres com Síndrome do Ovário Poliquistico (SOP) podem engravidar. “Na SOP há realmente uma maior tendência à resistência à insulina o que metabolicamente pode provocar alterações nos óvulos e no processo de ovulação. Uma alimentação com índices glicémicos e cargas glicémicas baixas a moderadas é uma estratégia de atuação”, explica Noélia Arruda. A alimentação e o estilo de vida vão ter um papel fulcral na modulação desses desafios e assim conseguir engravidar naturalmente.

Mesmo com tratamentos, pode não conseguir engravidar? Verdade. “Qualquer processo de fertilidade medicamente assistida requer óvulos férteis e espermatozóides de qualidade. Avaliar as analises clínicas com o olhar da nutrição funcional permite nutrir óvulos e espermatozóides para tornar todo o processo eficaz.”, explica a nutricionista, que acrescenta: “nutrir óvulos cerca de 90 dias antes de qualquer processo de fertilidade aumenta muito mais as chances de o investimento ser eficaz.”

Mulheres com endometriose não conseguem engravidar? Mito. “É verdade que mulheres com endometriose têm por natureza um organismo mais inflamado e stress metabólico e isso gera alterações ao nível da oogénese (formação dos óvulos de qualidade)”, realça Noélia Arruda. “Entender a fisiopatologia da endometriose promove o silenciamento dos sintomas e gera uma homeostase (equilíbrio) metabólico passível de gerar uma gravidez sã e tranquila.”

A alimentação interfere na fertilidade? Verdade. É a ideia que nos traz até aqui e é importante não a esquecer. “Existem alimentos que estimulam a nutrição dos óvulos e dos espermatozoides. Além disso, alimentos que possuem agrotóxicos podem alterar processos metabólicos, chamados de disruptores endócrinos e isso causar a infertilidade. Uma alimentação biológica e com uso de alimentos vivos promove um organismo metabolicamente mais energético e capaz de gerar um novo ser”, destaca.

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